domingo, 15 de fevereiro de 2009

AllegOria [acto IV]

[Mar de Emoção]
(...)
- Já sei! Podias podias dar-nos boleia para longe daqui. Conseguirias passar a tempestade. És um golfinho e os golfinhos são muito bons nadadores. E são inteligentes também. Aposto que sabes, exactamente, onde há terra.
- Eu podia faze-lo, mas não o farei.
- Porque não?
- Porque quando se dá um peixe a um homem, da-se-lhe alimento uma vez. Quando se lhe ensina a pescar, da-se-lhe alimento para toda a vida. É por isso. (...) Só as posso ajudar ensinando-as a ajudarem-se a vós próprias. (...) Algumas pessoas têm que bater no fundo antes de estarem dispostas a aprender a salvar-se. E, mesmo então, algumas não se arriscam a tentar. (...) A única segurança duradoura é a segurança de sabermos que podemos tomar conta de nós próprios. (...) Acalmar a mente face à turbulência é uma lição dificil de aprender mas importante. Raramente nos sentimos em paz, se a paz depender sempre de nos encontrarmos em mares calmos. Ajuda concentrar no que se pode fazer em vez de no que não se pode fazer. (...) O mar e a vida têm muito em comum. (...) A Natureza é muito generosa para os que obedecem às suas regras simples. (...) Qd se vive em harmonia com a Natureza, a vida corre. Conseguem sentir isso?
- Sim, sim. Sinto! - gritou Vicky. A chuva fina parou, as nuvens escuras abriram-se e o sol apareceu a brilhar. - Olha um arco-íris! - disse Vicky, entusiasmada, olhando para o céu aberto entre duas braçadas. - Estou tão contente por aquelas nuvens escuras e aquela chuva se terem ido embora.
- É preciso haver sol e chuva para fazer um arco-íris, Vicky. - notou Dolly.
- Facto que vale a pena recordar. (...)
- Podes dizer-me se devo nadar para o arco-íris por alguma razão especial? - perguntou, hesitante, a Dolly.
- Porquê procurar respostas nos outros quando elas estão no nosso próprio coração?
A mente recordou-lhe o tempo em que se sentia atraida pela árvore do monte para além dos jardins do palácio. Fora no dia em que necessitara tão desesperadamente de encontrar Doc. E ele estivera lá. Agora precisava encontrar terra. Estaria algm a tentar dizer-lhe algo? Olhou mais uma vez para o arco-íris. O seu coração começou a bater enquanto os olhos se fixavam na faixa vermelha. Era da cor exacta das suas amadas rosas!
- É aquele caminho que vou seguir - anunciou a Dolly.
Naquele momento surgiu ao longe um pedaço de terra. Vitória ficou espantada. - De onde surgiu aquilo? Não estava ali antes!
- Estava sim replicou Dolly.
- Então, porque é que não conseguia ver?
- Porque o receio e a dúvida tornam-nos cegos para o que é óbvio.
- Queres dizer que esteve sempre ali mas eu não conseguia ver por ter demasiado medo?
- Sim. E duvidaste da resposta do teu coração.
- Não compreendo. O doc disse, uma vez, que eu não conseguia ver o caminho da verdade porque não estava preparada para o ver. Tu dizes que não vi a terra por ter demasiado receio e estar cheia de dúvidas. Assim, não é o facto de não estarmos preparados ou de termos receio e dúvidas que nos torna incapazes de ver?
- São ambos. Quando se tem receio e dúvidas, não se está preparado. (...)
- Teremos saudades tuas, Dolly - exclamou a princesa.
- Aqueles que levamos no nosso coração estão sempre perto - disse Dolly, pestanejando. - Lembrar-me-ei sempre de ambas. (...)
O mar estava calmo. Acolhedor. Cheio de esperança. (...) Uma súbita vaga de energia invadiu-a e uma sensação de paz percorreu-a tal como as suaves ondas nas suas costas.

... [continua]

In: "A Princesa que acreditava em contos de fadas"
Marcia Grad, Ed. Presença

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