Este crescente reconhecimento não nos dava ainda assim garantias suficientes de que a casa algarvia iria encher para receber o autor de «Mr. Carousel», especialmente se tivermos em conta que em concertos anteriores, como os de Samuel Úria e João Coração, a mesma sala de espectáculos recebeu apenas algumas dezenas de espectadores.
Desta feita, no entanto, as reservas iniciais mostraram-se infundadas, e Noiserv pode orgulhar-se de ter tido uma casa cheia, em que a grande maioria, senão mesmo todas as cadeiras vintage do Lethes foram preenchidas por fãs, ouvintes ocasionais e mesmo pessoas para quem aquela terá sido a primeira ocasião em que ouviram a sua música.
No caso dos primeiros, o concerto que presenciaram ao longo de uma hora serviu para que pudessem confirmar aquilo que decerto já sabiam: Noiserv é um caso sério da música portuguesa, um artista a ter em conta para o presente e para os anos que se avizinham. Para os segundos, aqueles que ainda se encontravam no limbo, a sua aposta em ver o artista ao vivo só os pode ter transformado em membros do primeiro grupo. Finalmente, no caso dos espectadores que se enquadravam no terceiro grupo, esses ainda estarão a tentar compreender o que viram, ouviram e sentiram.
A acompanhar Noiserv em palco esteve, como de resto tem estado nesta digressão, Diana Mascarenhas, autora das ilustrações digitais criadas em tempo real ao longo do concerto e que são como um papel de parede vivo para as estórias que o músico apresenta em formato canção, funcionando como um complemento perfeito.
«Mr. Carousel», «Bullets on Parade» e «BIFO» abriram as hostes, destacando um Noiserv multi-instrumentista, que transporta para o palco de forma fiel as suas composições que, longe de serem minimalistas, como alguns insistem em qualificar, possuem uma complexidade assinalável, especialmente quando se trata de apenas um músico apenas a tocar nunca menos de dois instrumentos por música.
Música para o coração, é o que David Santos anda a criar. «Melody Pops», «The Sad Story of a Little Town», «Bontempi» e «Consolation Prize» permitiram confirmar isso mesmo, que a simplicidade aparente e a doçura dos sons produzidos pelo conjunto ecléctico de instrumentos que utiliza, em parceria com as palavras que canta são algo de especial e único.
Para o final ficou«Palco do Tempo», a sua contribuição para o documentário sobre Saramago e Pilar del Rio realizado por Miguel Gonçalves Mendes. Música mais recente do seu repertório, é Noiserv em português, sinal de que a língua não é entrave, e o futuro pode perfeitamente passar pela criação artística na língua de Saramago. «Palco do Tempo» é toda ela vivida em aflição, é uma corrida contra o tempo, contra a morte, é a necessidade urgente de produzir algo antes que o tempo se esgote, e é isso que a faz encaixar que nem uma luva em «José & Pilar».
Antes de se despedir deu ainda um bónus ao público presente: a sua versão de «Where Is My Mind», um original dos Pixies que gravou para o segundo volume da compilação 3 Pistas. Um final feliz para uma bela noite de música, e a certeza de que o Teatro Lethes foi perfeito para Noiserv, e Noiserv foi perfeito para o Teatro Lethes.
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1 comentário:
Estive tanto no concerto de João Coração como no de Samuel Uria. No do João estava pouca gente, mas no do Samuel a sala estava praticamente cheia e havia mais eventos em Faro no mesmo dia.
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